PANELAÇO

Por Gerson Moyses - Na última terça-feira (23/2/16), assisti ao programa do Partido dos Trabalhadores, na TV, em meio a um grande panelaço - que nunca antes foi tão intenso e duradouro, pelo menos no bairro onde moro, na capital paulista. O som de panelas, frigideiras, vuvuzelas, apitos, xingamentos e palavras de ordem contra o PT e o governo foi a trilha sonora do (absurdo) programa.
O tom foi de absoluto otimismo. E, a mensagem, que tentou ser passada, foi que as atuais crises econômica, moral e social, nas quais estamos metidos até o pescoço, são virtuais e apenas questão de postura e percepção pessoal.
“As pessoas que falam em crise, crise, crise repetem isso todo o dia e ficam minando a confiança do nosso pais” - essa foi uma das falas do ex-presidente Lula. Vamos acabar com o mau humor! Vamos parar de reclamar! Somos um povo alegre e que gosta de carnaval! - foram outras mensagens transmitidas.
Bem, dois dias depois (25/2/16), assisti ao programa do PMDB, também em rede nacional de TV. O tom foi de críticas à condução do país durante a crise. O vice-presidente Temer, solenemente, falou como se ele e seu partido não participassem das decisões do governo há 13 anos, como se o PMDB não fosse da base governista e como se não ocupasse sete ministérios. E aqui também foi dito que “o sentimento de desconfiança, abatimento e pessimismo das pessoas é natural, mas não ajuda o Brasil a sair da crise”.
Oras bolas, concordo que o otimismo é um sentimento nobre. Mas, quando todas as agências de risco rebaixam a nota do Brasil, quando os juros vão às alturas, quando a inflação explode, quando o investimento fica paralisado, quando o desemprego só aumenta e atinge milhões de pessoas, quando não há responsabilidade fiscal, quando a economia derrete de o PIB atinge os piores níveis da história, quando o Aedes aegypti espalha doenças letais e que limitam a vida de milhares de pessoas, quando o mar de lama da Samarco destrói (literalmente) comunidades, vidas e o meio ambiente, e quando o mar de lama da política (agora no sentido figurado) destrói o presente e o futuro do País, não dá para acreditar que o pensamento positivo, que as boas energias, que a alegria e o sorriso do povo sejam soluções. Essas até podem ser terapias coadjuvantes, mas não resolvem absolutamente nada.
Em algum momento, durante o programa do PMDB, baixei o volume da TV para tentar ouvir se havia alguma manifestação. Silencio absoluto. O panelaço de dois dias atrás simplesmente não se repetiu. (Por um instante pensei em começar a bater panelas, mas por temer ser o único, preferi não fazer).
Qual o motivo da intolerância absoluta com o PT e a tolerância (ou indiferença) com o PMDB? Qual a real diferença entre esses partidos? Talvez as pessoas não percebam a relação direta entre os dois casos. Talvez acreditem no discurso de que o PMDB pode promover a união e o diálogo na proposição de ações para superar a crise. Talvez o marketing político ainda funcione para o PMDB. Talvez achem que qualquer coisa é melhor que o PT. Sei lá. Fato é que todos são igualmente responsáveis pela desastrosa situação. Como já afirmou o amigo Danilo Rizzo, NÃO HÁ VIRGENS NO PUTEIRO.
Para concluir, mais algumas provocações: por que não há panelaço para os escândalos da merenda escolar e do metrô paulistas, para a amante do FHC, para a crise da saúde no Rio de Janeiro, para o mensalão tucano, e para a infinidade de escândalos e roubalheiras que surgem todos os dias?

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