NÃO HÁ VIRGENS NO PUTEIRO

foto: esquerdopata.blogspot.com
Por Danilo Rizzo – Muitos de nós estabelece com a política e seus agentes, relações vistas noutros ambientes como o futebol, a religião, a sexualidade. Tive e tenho minhas convicções, sempre votei para o mesmo lado, mas sempre me permiti, de tempos em tempos, questionar minhas escolhas. E faz alguns anos, e mais agudamente a partir de 2012, passei por um desses momentos de auto avaliação, o que me fez concluir que, na política, não há mocinhos. E saco mão de casos recentes e ainda não esclarecidos, para substanciar meu ‘achismo’.
Vamos começar pelo começo, ou pela sacanagem que talvez tenha acontecido primeiro. O Mensalão tucano, ou Mensalão Mineiro, ou tucanoduto, é o escândalo de peculato e lavagem de dinheiro que ocorreu na campanha para a eleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais em 1998. Azeredo consta na denúncia do Procurador Geral da República dirigida ao STF, como "um dos principais mentores e principal beneficiário do esquema implantado". A ideia, depois aplicada no mensalão do PT, era de financiamento irregular - com recursos públicos e doações privadas ilegais - à campanha à reeleição do então governador. No balaio estão pessoas ligadas às estatais Cemig, Comig, Copasa e da empresa Graffar, que teriam desviado recursos da Cemig para a campanha de Azeredo.
O segundo caso é o chamado Mensalão no Distrito Federal, também conhecido como Mensalão do DEM. É o escândalo de corrupção que surgiu no final de novembro de 2009 pela Polícia Federal, através da Operação Caixa de Pandora e baseada nos depoimentos de Durval Barbosa. Entre os envolvidos estão diversos membros do partido Democrata como o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e o vice-governador Paulo Octávio. Embora localizado como Mensalão do DEM, a conjuntura envolve também políticos de vários outros partidos do PMDB, PSC e PSDB. Para Arruda restaram a desfiliação do partido e um mandado de prisão preventiva decretado, sem todavia, que o caso tenha sido julgado.
Também percebemos que o buraco é mais em baixo, pelo menos quando falamos da problemática envolvendo o Governo Estadual paulista, a Siemens, e o Metrô. Um suposto propinoduto internacional, comandado pelas multinacionais Alstom e Siemens que contava com a participação dos donos das empresas Procint Projetos e Consultoria Internacional e Constech Assessoria e Consultoria Internacional. Elas eram responsáveis por duas offshore no Uruguai, e o dinheiro da "caixinha" era enviado para as empresas uruguaias e daí seguia para a Procint e Constech. O esquema montado em paraísos fiscais para trazer ao Brasil o dinheiro de propina da Siemens já haviam sido divulgados, em 2009, quando, naquele momento, uma importante testemunha desvendava os caminhos sinuosos do esquema, que envolvem nomes como o do atual governador do estado Geraldo Alckmin, o ex prefeito da capital paulista e ex governador José Serra, e até o falecido Mario Covas.
E o que dizer da inusitada apreensão de drogas no helicóptero da família Perrella. A aeronave da Limeira Agropecuária, empresa do deputado estadual por Minas Gerais Gustavo Perrella (SDD), filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), e transporte de 445 quilos de pasta-base de cocaína, foi apreendida em novembro do ano passado no município de Afonso Cláudio, sul de Minas. A Polícia Federal demorou a se pronunciar sobre o caso, e quando o fez, esclareceu quem não tinha culpa, que eram, por óbvio, Perrella pai e Perrella filho. Ao término da investigação da PF, além do piloto da aeronave, foram denunciados por tráfico de drogas e associação para o tráfico o co-piloto, os responsáveis por descarregar o helicóptero, e o dono da propriedade que servia de base para a organização.
O último caso que trago a esta reflexão é a derrocada do "mosqueteiro da ética", o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Antes de ser senador, Randolfe foi deputado estadual em Macapá, ajudando a dar sustentação ao governo de João Capiberibe (PSB-AP), que também se elegeu para o Senado na última eleição. Ambos foram denunciados em 2013 à Comissão de Ética do Senado Federal pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, Fran Soares Nascimento Junior, numa peça gravíssima. Fran acusava Capiberibe de ter pago, durante seis meses, um mensalão de R$ 20 mil/mês a vários parlamentares, para garantir a sustentação de seu governo. Ainda, a denúncia aponta que o próprio governador recebeu os recursos e afirma que Randolfe Rodrigues também colocou no bolso o dinheiro ilegal, chegando a assinar recibos, apresentados na denúncia. Imaginemos a inestimável contribuição que tais recursos traziam, uma vez que o salário de um deputado no Amapá, naquele momento, era de R$ 5.274,87.
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Claro que falta nesta lista o chamado Mensalão do PT, mas dele já comentei em Considerações sobre o Mensalão do PT, portanto não choverei no molhado. Mas também cabe aqui falar do 'rolezinho' da Dilma em Portugal. A parada emergencial para abastecimento teve direito a suite de 8 mil Euros e porre no restaurante mais caro de Lisboa. Como se isso já não fosse degradante, enquanto o porta voz de nosso governo tratava a visita aos patrícios como uma escala de abastecimento não programada, o governo daquele país desmente, e esclarece que tudo estava agendado a pelo menos 3 dias.
A dor da traição, o auto flagelo da escolha errada. Eu passei por isso. Somos todos vítimas e agentes do que nos é publicado diariamente na Tv, nas rádios, na imprensa escrita e na internet. Afinal, são nossos representantes que se elucubrem com o dinheiro alheio, sem se quer, se preocupar em melhor uma fração da vida de quem os colocou lá. E não venham me dizer que um é melhor que o outro, porque não é. No puteiro que é nossa política, todos que lá estão já foram deflorados pelo poder podre. Naquele puteiro, não há uma virgem se quer.

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