BRASIL, O PAÍS DO FUTURO PREVISÍVEL

Por Osvaldo Martins Rizzo (*1950 +2010) - Sobre o futuro, a secular cultura popular russa – que sofreu as agruras da tirania de direita dos czares e de esquerda dos bolchevistas – cunhou um ditado que sabiamente aconselha: “espera pelo melhor e prepara-te para o pior”.
Apesar de apenas significar que o planeta Terra completou mais uma previsível órbita em torno da estrela chamada Sol, o mês de janeiro tradicionalmente é o período do ano no qual proliferam as profecias e as previsões.
No Brasil, quando para o ano nascente estão programadas eleições majoritárias, a democrática possibilidade de ocorrer alteração na política econômica costuma gerar ansiedades, incertezas e aumento da desconfiança nos atos do governo, permitindo a periódica farra dos especuladores do sistema financeiro, alimentada pelos recorrentes rumores de calote da dívida pública interna, cujo crescente estoque caminha, celeremente, para atingir a cabalística cifra do um trilhão de reais.
BRASIL EM FESTA, COPA DO MUNDO !! LET'S PARTY ...
BRASIL EM FESTA, COPA DO MUNDO !! LET'S PARTY BRAZIL, WORLD CUP !! (Photo credit: Wikipedia)
Em 2006, a frágil democracia brasileira deverá reviver momentos tensos e festivos com as eleições de outubro, e muitos insatisfeitos eleitores certamente votarão motivados pela vontade de mudanças.
Todavia, o cidadão comum corre o sério risco de desfrutar de uma efêmera alegria com o resultado da Copa do Mundo de futebol, seguida de uma longa decepção com o desempenho do próximo governo, pois é crescente a probabilidade do futuro próximo ser muito parecido com o passado recente.
Deveras. Desde o restabelecimento das eleições presidências diretas, pela primeira vez os dois principais candidatos – detentores de mais de dois terços das intenções de votos – são devotos da mesma doutrina de política econômica que reserva para o próximo presidente da República apenas o desconfortável cargo comparável ao de gestor de um deficitário negócio altamente endividado e ineficiente.
Essa quase imutável situação exigirá a manutenção do modelo atual de política econômica que arrasta para os cofres públicos a poupança privada através da colocação dos títulos do Tesouro de alto retorno para a rolagem da dívida e da sideral carga tributária (cerca de 40% do Produto Interno Bruto – PIB), desviando-a do salutar investimento produtivo fomentador de emprego e renda, necessário para impulsionar a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) que corresponde ao potencial de crescimento futuro do PIB.
Em outras palavras, a perenização da atual política econômica irremediavelmente condena o país a continuar crescendo a taxas medíocres nos anos vindouros, e o primeiro decênio do século XXI provavelmente se tornará a terceira década perdida consecutiva. O PIB per capita, por exemplo, não cresce desde 1.980.
Nesse enfermo sistema, o trabalhador e o capital produtivo continuarão a ser mal remunerados, transferindo renda para custear a alta lucratividade do capital financeiro, além da ineficácia do setor público, e a Receita Federal seguirá cumprindo a legislação vigente ao tributar a renda e não o patrimônio.
Esse asfixiante quadro desfavorável à maioria da população poderia mudar se fossem implantadas as necessárias reformas estruturais (fiscal, política, etc) que dependem da aprovação em votação da maioria dos componentes do Congresso Nacional.
Entretanto, como o mais provável é que o futuro governo também tenha dificuldades em manter o voto parlamentar majoritário, tais reformas deverão ser novamente proteladas, pois, se o atual presidente se reeleger, os neo-udenistas continuarão a abrir uma CPI por mês obstruindo o andamento normal dos trabalhos no Parlamento.
Caso a oposição vença o embate eleitoral, mesmo com uma bancada provavelmente menor que a atual, os petistas reassumirão o seu histórico comportamento contrário a toda proposta originada no Executivo, estorvando a gestão do novo governo.

O presente artigo foi originalmente publicado em 01/11/2006 no site Congresso em Foco. Clique aqui para acessar a publicação original.

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