DINHEIRO NA MÃO, CALCINHA NO CHÃO

Por Danilo Rizzo - Dia desses publiquei o artigo VOCÊ TEM MEDO DO SUCESSO?, onde devaneei sobre como lidar com êxitos e fracassos, e sobre o fascínio inafastável que um sente pelo outro. Mas hoje quero dividir com vocês outra visão sobre a mesma temática, bastante mais amedrontadora, em relação à irracionalidade e imprudência que se apresenta na busca voraz pelo sucesso, pelo dinheiro, pela exposição.
Quando eu era criança, as profissões da moda eram as tradicionais, advogado, engenheiro, médico, dentista, veterinário, professor, etc., e alguns poucos se aventuravam a dizer jogador de futebol ou artistas de Tv. Absolutamente não menosprezando as carreiras esportivas ou artísticas, mas, penso que muito por influências de pais, avôs, tios, via-se alguma distinção nas carreiras clássicas, no diploma pendurado na parede, no pronome de tratamento. O aspecto financeiro também era, provavelmente, um elemento de peso nessa balança, até porque em meados dos anos 80 eram raríssimos os esportistas ou artistas que aferiam salários astronômicos. Mas não estamos mais em 1980 e, pelo menos em relação aos ganhos financeiros, a balança que pendia para os ofícios clássicos guinou e hoje vemos uma profusão de atores, cantores, jogadores de futebol e lutadores de MMA ganhando horrores.
Honestamente não vejo nada de mal nisso, afinal, não sendo roubado, quanto mais dinheiro, melhor. Mas é aí que começa minha preocupação. Essas novas carreiras, e engordo a lista com ‘profissões’ recentes como ex participante de reality show, filha de modelo, filho de empresário, de deputado, ex namorada de jogador de futebol, de piloto de corrida, enfim. Essas novas carreiras, onde os ganhos são diretamente proporcionais à exposição e ao Ibope, e inversamente proporcionais ao bom senso e ao tamanho das roupas, tem atraído mais e mais olhares de jovens despreparados e pais e mães que preferem ver seu filho de cabelo amarelo, do que se dedicando aos estudos. Progenitores que têm em suas crias fomentadores de uma vida melhor, rica, que veem seus filhos e filhas como mercadorias prontas para serem consumidas pela chamada ‘mídia’... "Dane-se se minha filha fala pobrema, ela precisa do penteado da moda para arrasar no show do pagodeiro whatever."
foto: tumblr.com
O que eu questiono, portanto, são os valores e princípios os quais crianças e jovens recebem daqueles que tem obrigação maior de educa-los. Como é possível encontrar amor próprio, autoestima e senso de moralidade numa jovem que se deita com um jogador de futebol para emplacar a próxima capa de revista? Isso é profissão? Mãe do filho do centroavante da seleção? WTF!!! E onde está o orgulho daquele pai ao ver o diploma de faculdade que seu filho conquistou depois de árduos anos de estudo, dedicação, disciplina. A dedicação a uma carreira de juiz, médico, professor tem menos valor que a matéria de capa do Fuxico?!? Ok, não precisa ser advogado ou engenheiro, hoje são tantas novas profissões, voltadas para tecnologia da informação, especialistas em terapias alternativas, ou voltadas para alimentação como o boom na carreira de chef de cozinha que presenciamos na década passada. Claro que se há uma relação entre essas novas profissões e as ‘clássicas’ é que, tanto numa como noutra, é preciso estudar, se dedicar, etc., e etc. E me parece que é isso que afugenta essa parcela da população, se dedicar a algo saiu de moda a tempos e hoje a regra é dinheiro fácil, seja transando com o famosinho mais próximo ou mamando num dos benefícios do governo. Por que se dedicar a uma profissão honesta quando posso viver uma vida de merda sem trabalhar? Esse parece o grande exemplo que esses pais exploradores dão. Claro que há exceções de toda natureza, pais humildes que transmitem a seus filhos, além de muito amor, valores indestrutíveis, mas que infelizmente não servem de exemplos aos que querem enriquecer às custas de filhos ocos, criados assim, cuidadosamente por eles mesmos.
O sucesso que mencionei no outro artigo é facilmente confundido com riqueza, vaidade, exposição, e pode cegar, entorpecer, viciar, e provocar nas pessoas reações irracionais, além de afetar a moral e o bom senso. A critica é dura sim, vivemos um momento de aparente transição no país, que mais do que nunca precisa de pessoas valorosas e capacitadas para concretizar a ideia tão repetida de que ‘o Brasil é o país do futuro’. Enquanto família somos pequenos, mas tudo começa dentro de casa, tudo começa na família. Nosso progresso, sucessos e frustrações serão sempre reflexo de nós mesmos, de nossa essência, de nossa moral. Sou pai de dois, e assim como meus pais em relação ao meu irmão e a mim, tenho a obrigação de transformar meus filhos em cidadãos de bem, pessoas com princípios sólidos e valores incorruptíveis, para o bem deles, de mim, e desse país. Sucesso é bom, glamour é bom, dinheiro é bom, mas a qualquer custo nada disso faz sentido, muito menos deprecia uma vida dedicada a uma profissão comum. Vi meus avós tendo orgulho de meus pais por suas vitórias, mas também por nunca se dobrarem ou venderem as almas. Vejo meus pais orgulhos dos filhos, construindo suas carreiras, cada um a seu modo, mas mais orgulhos por terem criado homens de valor.

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